Após 5 anos seguidos de sucesso, uma das reclamações do público sobre a dupla era, ainda, a respeito do show. Assim como acontece com a Paula Fernandes, é comum ouvir gente dizendo que o show da dupla “dá sono”. Eu particularmente discordo dessa colocação. Afinal de contas tanto Victor & Leo quanto Paula Fernandes estão num status onde eles são a atração do evento. A pessoa compra o ingresso para vê-los e não para curtir um show qualquer enquanto festeja na balada. Isso dá a eles a oportunidade de fazer o show que quiserem, com as músicas que acham que devem tocar. É meio incoerente a pessoa saber como é o trabalho da dupla, comprar um ingresso para ir num show e depois sair reclamando que o show é desanimado. Ora, é basicamente um apanhado das músicas dos discos.
Ainda assim, o disco “Amor de Alma” é uma clara demonstração que a dupla se preocupa, sim, com o que o público que frequenta seus shows está querendo. Ao invés das tradicionais baladas com longos arranjos de violão, o disco traz principalmente canções com pegada dançante e ainda resgata os pout pourries com grandes sucessos sertanejos, que não apareciam nos discos de Victor & Leo desde o DVD “Ao Vivo em Uberlândia”. No disco anterior, eles haviam contado com o apoio do Guto Graça Melo. Desta vez, no entanto, os dois voltaram às origens e se dedicaram por inteiro ao processo de produção.
É até meio surpreendente dar o play no disco e escutar logo de cara uma canção dançante (vaneirão), quando se fala de Victor & Leo. Fora as regravações que a dupla fez em alguns discos, como “Cavalo Enxuto”, “Arapuca” e algumas outras, não me lembro de canções inéditas da dupla com essa pegada. No disco “Borboletas” tinha uma música, “Timidez”, que oscilava entre o vaneirão e um outro ritmo que não dava pra identificar direito. Mas Victor & Leo ainda não tinham se arriscado a gravar um vaneirão inédito. Pelo menos não tantos de uma vez.
O disco “Amor de Alma” traz pelo menos 3 vanerões inéditos, além de um potpourri também nessa pegada. A música “Boteco de Esquina”, um dos vanerões que abre o disco, presta uma homenagem aos cantores de boteco com uma história engraçada sobre um barzinho. Um detalhe interessante é que a música não tem refrão. São 4 estrofes, cada uma destacando um aspecto interessante dos botecos que só quem canta nesses lugares sabe. Na ordem das estrofes: o garçom boa praça, a mulher casada que dá em cima do cantor, os aniversariantes (só Deus sabe quantas vezes os cantores de bar cantam “Parabéns pra você” por noite) e o bebum que fica até o final e insiste em pedir música mesmo depois do som desligado. Uma música genial, diga-se de passagem.
“Venha ver o mar” e “Lu” são as outras duas músicas na mesma linha, as duas um pouco mais românticas, apesar da pegada dançante. “Lu”, na verdade, nem é tão diferente assim do tradicional estilo da dupla, apesar do ritmo. Assim como boa parte das canções de Victor & Leo, essa canção também tem uma letra romântica e é cantada em tom menor, garantindo uma pegada mais íntima, por assim dizer. Da faixa 1 à faixa 6, o disco se alterna entre um vaneirão e uma balada. Apesar de neste disco a sanfona ser bem mais marcante, as baladas serviram pra deixar o violão ainda em evidência. A faixa “Lágrimas”, ao contrário das outras duas baladas, tem uma letra bem mais elaborada e um arranjo de violão mais complexo.
Da faixa 7 à faixa 9, as regravações do disco. A faixa 7 é uma releitura numa pegada mais dançante da música tema da novela “Mulheres de Areia”, “Sexy Iemanjá”. A faixa 09 é um potpourri de guarânias com duas músicas excepcionais: “Passe Livre”, da dupla Teodoro & Sampaio, e “Se eu não puder te esquecer”, uma das clássicas composições do Moacyr Franco gravadas pela dupla João Mineiro & Marciano. Da faixa 10 em diante, apenas canções tocadas quase que apenas no violão, incluindo um dueto com a Paula Fernandes na música “Sonhos e Ilusões em mim”. A faixa “Longe”, traz o Victor na primeira voz, como já é tradição nos discos da dupla.
O potpourri da faixa 08 é outra idéia bem bacana deste disco. São 3 músicas em homenagem ao Trio Parada Dura, sendo duas regravações de clássicos que o Trio gravou (“Fuscão Preto” e “O Doutor e a Empregada”) e uma inédita para fechar o poptpourri com uma música que une e fecha a história das outras duas, contando como o Doutor fugiu com a empregada no Fuscão Preto. Idéia interessantíssima.
Apesar do repertório bem escolhido, o disco peca na distribuição exageradamente certinha das faixas. Da faixa 01 à faixa 06, a alternância entre um vanerão e uma balada. Da 07 à 09, as regravações. E da 10 à 12, as músicas tocadas somente no violão. Como houve essa preocupação com a proporção do disco (exatamente 3 faixas para cada subsegmento mencionado), talvez fosse mais prudente distribuir melhor as faixas no disco, que abre com uma música pra cima e fecha com 3 extremamente lentas, o que acabou tirando o efeito da abertura, que tinha uma sequência de 5 músicas de linguagem mais popularesca e consequentemente bastante animadas. A colocação da faixa “Venha ver o mar” no fechamento do disco e a distribuição das faixas lentas de forma mais separada provavelmente garantiriam um efeito melhor.
Ainda assim, é notável como o “Amor de Alma” busca de fato agitar um pouco mais a galera nos shows da dupla. Dependendo da forma como as músicas forem executadas durante as apresentações, não creio que a tal reclamação mencionada parágrafos acima persista. É importante observar como Victor & Leo ainda se preocupam com a opinião do seu público a respeito dos shows mesmo sendo eles ainda as atrações principais de praticamente qualquer evento que participem e mesmo tendo conquistado um status invejável em relativamente pouco tempo de exposição na mídia. Qualquer outro artista afetado pelo ego inflado provavelmente estaria pouco se lixando se o povo está ou não curtindo o show. Victor & Leo, pelo jeito, se preocupam.
Nota: 8,5
Fonte: Blognejo.
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