Entrevista com Victor e Leo: 'Nós não tínhamos necessidade nenhuma de reconhecimento nacional'

Entrevista com Victor e Leo: 'Nós não tínhamos necessidade nenhuma de reconhecimento nacional'

quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Dupla diz que já tinha público antes de música em novela e recusa o rótulo de sertanejo universitário.

Eles estão na 'crista da onda'. Perdoem a expressão cafona, mas é que nada parece tão apropriado de ser dito nesse momento em que o sertanejo dá uma guinada e vive uma grande 'onda', semelhante àquelas que a indústria fonográfica já não via há quase uma década. Depois da lambada, do próprio sertanejo, do pagode, do funk e do axé, nos anos 90, a sensação que se tinha era a de que nenhum gênero tomaria de assalto outra vez as paradas de sucesso. Pois bem, era só uma sensação: o sertanejo voltou.

E se o sertanejo é a grande onda da vez, Victor e Leo são os maiores representantes da 'nova geração'. Líderes de venda e de execução em radio, os irmãos nascidos em Abre Campo, Minas Gerais, chegam a fazer, durante as festividades de São João, shows para mais de 20 mil pessoas, de segunda a segunda. É inegável: se existe a onda, existe a 'crista', e é lá que eles estão.

Vivendo o momento mais positivo da carreira – "Acabamos de completar a 27ª capital", diz Victor -, a dupla fala, em entrevista exclusiva para o site do Multishow, sobre trajetória, sucesso, pirataria e explicam por que renegam o rótulo de "sertanejo universitário". Confira:


Multishow - Em meio a uma enorme crise da indústria fonográfica, o sertanejo deu um salto e vocês estão entre os maiores vendedores de CDs do Brasil. A que vocês atribuem esse sucesso?

Victor - Na verdade, a gente não fez nada para chegar nesse sucesso. O que a gente fez, de alguma maneira, ocasionou isso. Toda ação tem uma reação, é por aí. O que a gente faz, até hoje, é sempre aprender mais e colocar em pratica esse aprendizado para melhorar a nossa arte.

Multishow - Os arranjos das músicas de vocês são muito característicos. Quais são suas influências?

Leo - Nós temos muitas referências diferentes, que começaram com Sérgio Reis e Renato Teixeira e depois com as duplas dos anos 90, mas também sempre escutamos Neil Young, James Taylor, Eric Clapton... Essas referências extras, misturadas ao regional, foram muito importantes para o nosso som.

Victor - Eu sou autodidata, não estudei violão. Na verdade, tudo o que a gente faz vem da gente, os arranjos, a produção, tudo, por isso tem essa identidade tão forte.

Multishow - Por soarem tão diferentes do sertanejo tradicional, vocês sentiram algum tipo de preconceito com relação ao som de vocês?

Leo - A gente não sofreu preconceito, a gente viveu o preconceito. A gente não sofre porque entendemos muito bem como isso funciona. Brasileiro, no geral, sofre preconceito, né? E esse preconceito também foi, aos poucos, sendo quebrado... Por exemplo, a entrada da nossa música aqui no Rio de Janeiro, um estado que não tem tanta tradição sertaneja, é a prova de que o preconceito está sendo quebrado e de que a nossa musica é diferente. Tocamos no sul do Brasil, no Planeta Atlântida, no Festival de Salvador... Acabamos de fechar o 27º estado brasileiro, o que mostra uma aceitação interessante do nosso trabalho.



Multishow - Esse preconceito foi sendo quebrado com a entrada de uma música de vocês na trilha de uma novela?

Victor - Não, o preconceito foi quebrado muito antes disso.

Leo - Mas isso também foi importante...

Victor - Foi, mas o reconhecimento veio bem antes. Tudo é importante, na verdade, mas em 2005, quando estávamos em São Paulo, já vivíamos muito bem de música. Nós não tínhamos necessidade nenhuma de reconhecimento nacional. Já estava tudo muito bom nessa época, o preconceito com o nosso som já vinha sendo quebrado. As vezes fica parecendo que você está louco pra ser famoso, mas esse nunca foi o nosso objetivo, a nossa meta... Passou longe!


Leo - A gente não ficava pensando com loucura no sucesso, como as pessoas costumam pensar, com essa coisa de fama e dinheiro. Quando a gente gravou o primeiro álbum ao vivo [hoje fora do mercado por questões mercadológicas], estourou. Quando a gente gravou o "Ao vivo em Uberlândia", a gente ja estava há um ano fazendo shows lotados, em quase todas as praças, com o público cantando todas as musicas... Só não tínhamos ido para a TV.

Victor - Para você ter uma ideia, a gente fazia shows entrando no palco pela plateia sem o menor problema porque o público não reconhecia a gente. Alguns tinham uma vaga ideia por causa da internet e tal, mas nossa cara não estava em lugar nenhum.

Multishow - E como vocês chegaram a todos esses lugares, então?

Victor - A gente cuidava do site e começaram a chegar e-mails pedindo shows e CDs nas cidades do interior do país. As pessoas começaram a exigir CD original porque só tinha pirata. Como assim só tem CD pirata, o CD tá onde, cara? Só a gente vendia os discos nos shows. Chegavam e-mails do interior do Mato Grosso, Minas, Goiás, Triângulo Mineiro... Esse eixo começou a conhecer a nossa música sem saber quem a gente era, e a gente não sabia disso. Ficamos sabendo através dos e-mails. Foi o rádio.



Multishow - Vocês falaram que as pessoas já tinham o disco pirata, muitas pessoas conheceram o trabalho de vocês com os CDs piratas. Como vocês lidam com a questão da pirataria?

Leo - A pirataria não é um mal a ser combatido agora. Precisamos primeiro educar as pessoas. Elas precisam entender que, ao comprar um CD pirata, ela está incentivando uma indústria falsa, não está incentivando o país. As vezes as pessoas reclamam que precisam de um país melhor e compram CD pirata. Isso é só um exemplo, claro, existem muitos outros, mas é bem por aí.

Victor - Na verdade, o rádio veio antes da pirataria. As pessoas começaram a conhecer o trabalho e a pedir música no radio, que começou a tocar. É uma coisa maluca, muita gente luta para poder ter sua música no radio e a gente, por dia, encaminhava nossas faixas para umas 50 rádios do interior. Aí as pessoas ouviam e procuravam na loja, mas não achavam. O 'pirateiro' sacou isso aí, lógico. O pessoal chegava nele e pedia Victor & Leo, mas ninguém vai até o 'pirateiro' sem conhecer a música. Tivemos um monte de capas inventadas, era uma loucura. As vezes, para um disco, existiam mais de cem capas diferentes. O cara pegava uma foto nossa na internet, imprimia e escrevia "Victor & Leo Ao Vivo". As vezes misturavam nossas músicas com as de outros artistas, era uma mistura danada!

Multishow - Falando em mistura, vocês renegam o rótulo de sertanejo universitário, que está bombando por aí. Por quê?

Victor - As duplas que surgiram com esse rótulo fizeram o que se chama de "circuito universitário", que nós não fizemos. Além disso, a gente já faz nossa música há muitos anos. Há muitos anos que nós estamos burilando nosso estilo pra chegar num determinado momento e as pessoas simplesmente carimbarem um nome nele.

Leo - O próprio nome já diz, é sertanejo universitário, então é universitário. O que a gente faz é uma musica universal. A gente tem fã-clube da terceira idade, tem fãs adolescentes. Lógico que também temos fãs nesse público universitário, mas é dificil pra gente rotular uma coisa que é universal.

Multishow - Vocês citaram o Planeta Atlântida, vocês foram os primeiros sertanejos a se apresentar no festival, que tem tradição de pop-rock. Vocês se consideram pioneiros? Acham que abriram caminho para outras duplas?

Victor - Nós não nos consideramos pioneiros, não. A gente está só fazendo um trabalho. As pessoas podem achar, mas nós não vamos discordar ou concordar, a gente não pensa nisso.

Leo - É aquilo que a gente falou, a gente está preocupado em fazer o nosso trabalho, subir no palco, fazer as pessoas se emocionarem. esse outro lado, de se colocar em alguma situação, alguma posição, sei lá, não é uma preocupação da gente. A gente deixa para que as pessoas falem e caracterizem como quiserem.

Fonte: Por Bruna Senos / TVZ Multishow

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