Muitas vezes, a mesma galera que dança Tiësto no mais bombado festival de eletrônica e que corre para comprar o novo DVD dos Foo Fighters não perde por nada a chance de beijar meia dúzia de gatinhas numa balada sertaneja. A roça, pasme, agora é hype. É graças a essa renovação do alcance do gênero que Chitãozinho também não vê grandes problemas com a referência. Desde que ela cumpra sua missão: o incentivo à renovação da música sertaneja.
Próximas colheitas
Fazendo uma pausa entre as gravações do Estúdio Coca-Cola Zero ao lado da banda Fresno para conversar com o Virgula, Chitão declarou que fica muito feliz ao ver tanta gente jovem e bonita nas festas de sertanejo universitário. “Elas têm uma coisa muito legal, que é promover o encontro entre gerações, juntando com freqüência artistas antigos e uma dupla nova. Fora os DJs sertanejos, que continuam com a festa depois”. Para o tio de Sandy & Junior, Victor & Leo são os que mais chamam a atenção na safra atual do sertanejo. “Estão trazendo arranjos novos, sons novos”, elogiou.
Para outros, como Victor & Leo (foto) e Zezé di Camargo, a redução da renovação do gênero à categoria “universitária” – considerada por alguns uma possível modinha efêmera, que deve chegar a um ápice de popularidade, saturar e evaporar progressivamente – não parece ajudar muito.
Pensando em caminhos para colheitas futuras do sertanejo, Zezé contou ao Virgula que, particularmente, não é fã de rótulos. “Acredito que o que reforça o gênero é simplesmente a qualidade”, declarou.
Para Victor, parceiro de Leo, o sertanejo do futuro virá de maneira natural, com sua renovação revelada espontaneamente pelo passar do tempo. “Como dupla, não temos pretensão de sermos renovadores, a não ser de nós mesmos”, disse o cantor, que alega não precisar nem negar o rótulo sertanejo universitário. “O que fazemos não se encaixa nesse conceito. Não faz sentido para o que estamos propondo. Se existem duplas que o representam, não temos nada contra, mas não estamos entre elas”, disse.
Romantismo feliz
Frederico, da promissora dupla João Neto & Frederico, faz um contraponto. “Estou feliz por ser associado a esse rótulo. O sertanejo que ficou famoso como universitário não é triste. É uma declaração de amor”, contou ao Virgula. “O sertanejo é uma cultura do povo, e o povo não quer apenas um romantismo melancólico, mas um romantismo feliz, até mais pop. Acho que é isso que vem mudando na música sertaneja”, disse ele, braço-direito de João Neto em sucessos como "Pega Fogo Cabaré”, “Pura Magia” e “Pede Pra Sair”.
O futuro do caipira
Ao mesmo tempo em que remete aos caipiras Tonico & Tinoco, passando pelos já clássicos Milionário & José Rico e desaguando nos modernos Chitãozinho & Xororó e Zezé di Camargo & Luciano, este movimento de retomada – “universitário” ou não – retrata uma certa tensão vivida pelo sertanejo frente ao futuro de sua música.
De um lado, o sertanejo crê que abraçar tendências de outras vertentes da música popular brasileira é o caminho para seu fortalecimento. De outro, tem receio de se desapegar do que, até hoje, entendeu como sua essência ou raiz. Para os mais otimistas caipiras do novo milênio, é justamente dessa tensão, saudável e criativa, que a atual nata sertaneja se alimenta. E no meio do processo, nada mal, para os que curtem os tempos de roça hype e pelo bem da diversão descompromissada, alternar Victor & Leo com o novo single da Rihanna e a lembrança das melhores viradas do DJ Marky.
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